terça-feira, 30 de agosto de 2011
Soneto LXIV - Cem Sonetos de Amor
De tanto amor minha vida se tingiu de violeta
e fui de rumo em rumo como as aves cegas
até chegar em tua janela:
tu sentiste um rumor de coração quebrado
E ali da escuridão me levantei a teu peito,
sem ser e sem saber fui à torre do trigo,
surgi para viver entre tuas mãos,
me levantei do mar a tua alegria.
Ninguém pode contar o que te devo, é lúcido
o que te devo, amor, é como uma raiz
natal de Araucânia, o que te devo, amado.
É sem dúvida estrelado tudo o que te devo,
é o que te devo é como o poço de uma zona silvestre
onde guardou o tempo relâmpagos errantes.
Pablo Neruda
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