Quinta-feira quatro de dezembro deve
ter sido algo próximo do “Inferno de Dante” pra qualquer cidadão do Estado do Rio
de Janeiro, não digo carioca, pois torna-se limitador demais. Para Mara, minha
mãe e eu não foi diferente. Fiquei presa
na Rural, naquele temporal e Mara também
presa em outro ponto da cidade, não tirava a cabeça de casa. Quando enfim consegui
chegar em Japeri, ou melhor Engenheiro Pedreira, simplesmente não conseguia
atravessar a cancela, o outro lado
estava alagado. Tem um bolsão de água eterno, mas parecia acima do costume.
Decidi largar o carro em uma ladeira ali perto e correr pra casa a pé ... estava disposta até aprender nadar
naquele momento.
Quando atravessei pela passarela
caminhei alguns metros e encontrei outro bolsão de água, próximo ao posto de
gasolina. Pra completar após mais uns 60 metros depois não havia mais energia
elétrica, só enxergava quando um carro cruzava por mim, aumentando o desespero, pois iluminava as ruas próximas ao rio e revelava mais
alagamento. Essas ruas estavam com aproximadamente 70cm de água ou mais.
Cheguei em casa e encontrei
aquilo que imaginava, minha casa alagada e minha mãe desesperada preocupada comigo e
com a Mara, que se encontrava presa no trânsito na altura de Anchieta, junto
com duas colegas de trabalho. Não tinha energia elétrica, o que de certa forma
é compreensível, os telefones também não funcionavam, estávamos todos de fato isolados. Apenas, digo apenas 25cm de água, pois ali no bairro composto de 5 ruas muitos
perderam tudo, tudo mesmo. Meu bairro parece algo como um declive e esse rio/valão
divide quase no meio.
Quando enfim a água recuou, sobrou
lama, muita lama, dentro e fora da casa e a noção dos prejuízos materiais e também psicológicos. A ponte da minha rua (
todas daqui tem pontes) foi abaixo, a contenção da lateral da
minha casa foi junto e parte do muro da frente está comprometido. Era como nos meus pesadelos, sem o surrealismo claro,
entretanto ainda desesperador. Perdemos alguns objetos sim, ninguém sai ileso
de algo desse porte, mas o que me deixa
mais angustiada e a possibilidade de acontecer de novo e viver esses momentos,
novamente.
A energia voltou por volta das
2:30 da manhã e os telefones minutos depois. Só então consegui saber onde Mara
estava, era angustiante meu último
contato com ela foi por volta de 21hs e 40 e pra quem saiu do trabalho as 17hs,
era de causar agonia, e sim ela estava
bem. Chegou por volta de uma hora da manhã, também depois de uma jornada casca grossa, todas as amigas foram
dormir em Nilópolis na casa da mãe dela. Eu não consegui dormir, cochilava e
acordava assustada.
O cheiro da lama não sai do meu
nariz, estamos desde sexta tirando, quanto mais você joga água mais ela dilui e
espalha. Jogando objetos fora, aquele ritual referente a esses ocorridos. No
mais estamos cansadas, desanimadas, mas na medida do possível ok. Boa parte da lama
de dentro de casa já foi retirada, falta uma limpeza mais minuciosa e retirar
toda a lama dos arredores da casa. A TV já está no
lugar, digo isso pois minha mãe angustiada e cansada dizia “gostaria de ver um pouco de TV” , válvula de escape.
Decidi parar um pouco e escrever
alguma coisa, afinal já passou de meia-noite. Escrever bobagens sempre funciona
como válvula de escape desde a adolescência. Até por que não tenho disposição
pra mais nada e preciso manter o ritual no domingo, na segunda, na terça. Acho
que não terminaremos tão cedo.
Meu carro levou uma
porrada na traseira continua batido, de leve mais tá feio, não abre o
porta-malas e parece que não conseguirei um acordo amigável. Não contei sobre o carro?
Deixa pra outro dia...
Vida que segue e que
2013 acabe logo, por favor.
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